[TCG] Entrevista a Bernardo 'Soul' Dias



Por  Lawliet Shinzo     5/06/2016     

Hoje entramos num registo diferente e, à medida que o Nacional se aproxima, farei um rol de entrevistas às pessoas determinantes da comunidade portuguesa de TCG para os ficarmos a conhecer um pouco melhor e podermos saber um pouco dos seus segredos, ambições e expetativas. Creio ser uma forma intimista de apresentar personalidades ao público em geral como um ice-breaker para mostrar sobretudo aos mais novos que a tarefa dos jogadores mais veteranos é, acima de tudo, passar o testemunho e providenciar uma plataforma de aprendizagem e amizade, unidos pela paixão ao jogo.





Com esse objetivo em mente, apresento-vos o primeiro entrevistado da série, Bernardo Dias, uma escolha que recai por ele ser uma das minhas principais influências enquanto jogador de TCG por via da sua linha de pensamento, carácter exemplar e excelência na expressão escrita e execução teórica. O seu artigo para o 60cards, com o título de Theory vs Practice, foi a peça decisiva que me fez continuar no TCG numa altura em que me sentia com muitas dúvidas e constitui-se como um artigo pouco ortodoxo mas muito necessário no que à abordagem e ao conteúdo diz respeito, algo que faz muita falta, até em artigos pagos, no panorama do TCG. Iniciamos então a troca de ideias:










Uma das criações icónicas de Soul, com o seu quê de cliché, escárnio e lampejo de génio.














PCB – Começa por
falar um pouco de ti, uma espécie de autobiografia da tua vida até agora.




Soul - Olá, leitores do PCB! O meu nome é Bernardo ‘Soul’
Dias, tenho 20 anos, vivo em Sesimbra e também sou um jogador de Pokémon TCG.
Comecei esta jornada há cerca de 8 anos e nunca olhei para trás. Fora das
cartas, sou um estudante de Audiovisual e Multimédia, em Lisboa, e espero
acabar o curso ainda este ano. Não sei o que me espera depois, mas largar este
jogo não faz parte dos meus planos.





PCB – Como entraste no circuito competitivo do Pokémon TCG?


Soul - Foi uma transição engraçada. Eu já jogava Pokémon TCG
com colegas desde a primária, mas só quando cheguei ao 7º ano é que soube,
através de fóruns e blogs, que existiam torneios em Portugal, e o melhor é que
descobri que a liga do Seixal, nessa altura, não ficava a mais de 5 minutos de
casa dos meus avós! Com um colega, comecei a frequentar os torneios ainda como
Sénior e fui fazendo amizades e evoluindo no jogo pouco a pouco.









PCB – De onde surgiu
a tua alcunha?


Soul - Eu vivia relativamente longe de Lisboa, em Torres
Vedras, e então grande parte do meu contacto com a comunidade era feita através
de fóruns de Pokémon portugueses, que na altura também estavam na moda. Nesses
fóruns o meu username era sempre ‘Soul’ e alguns dos jogadores começaram a
tratar-me assim nos torneios também. A coisa pegou, e neste momento presumo que
alguns nem saibam porque é que ainda me chamam isso! Mas é um pormenor
engraçado e sempre o encarei com algum orgulho.










Shuppet é um dos Pokémon de eleição do Soul, figura marcante do seu playmat personalizado.









PCB – Qual o momento que consideras como o mais relevante na tua carreira?


Soul - É possível debater que ter conquistado o convite para
o mundial, no ano passado, tenha sido um dos meus melhores feitos, mas também é
verdade que nunca me tinha dedicado completamente a essa tarefa. No Europeu de
2014, senti um imenso prazer em estar presente nas top tables do torneio
durante várias rondas, rodeado de nomes célebres do jogo, naquele que foi o meu
primeiro torneio internacional. Acabei por fazer top e passar ao segundo dia e
esse foi dos momentos mais marcantes para mim como jogador.









PCB – E a situação
que te deixou mais frustrado?


Soul - Não sou de ficar muito frustrado quando as coisas
correm menos bem pois sei que ao fim e ao cabo é tudo um jogo, mas em tantos
anos já houve situações chatas. Tanto em 2010 como em 2013, fiz Top 4 no
Nacional, ficando a uma vitória do convite para o mundial em ambas as
situações, e apesar do bom resultado, é sempre uma vitória agridoce. Mas a
altura em que fiquei mais frustrado foi no Europeu de 2015: Depois de testar um
deck durante meses (Seismitoad EX com Manectric EX), acabei por optar por
Yveltal para o torneio, o que me saiu caro; tive que enfrentar imensos decks de
Fairy e Manectric, e o meu resultado abalou-me. Mais tarde vim a descobrir que
um jogador usou a minha primeira escolha (Toad/Manectric) e fez Top 4 no
torneio.





PCB – Conta-nos uma
história engraçada que possas partilhar connosco.


Soul - Tal como as frustrações e os momentos gloriosos,
também já se deram muitas situações engraçadas na minha carreira, mas há uma
que acabo sempre por contar: Em 2010, num States Championship em Lisboa, estava
a jogar com Luxchomp com uma tech de Entei/Raikou Legend (ERL). O meu oponente
e amigo, Jonatas Pires, usou um deck de Turbo Uxie, que utilizava imensos
recursos para tentar o ‘donk’ no primeiro turno. Eu começo o jogo primeiro com
um Garchomp C e um Bronzong G no banco, ligo uma energia de fogo ao Bronzong e
passo. Ele tem um turno explosivo, usando vários Uxie e Crobat G, e acaba por
dar KO no meu Garchomp ativo. No meu turno, avanço o Bronzong G, baixo o ERL,
ligo uma energia de elétrico e movo a de fogo com o poké-power do Bronzong G
para o ERL. Uso um poké-turn para retornar o Bronzong à mão, avançando o ERL e
acabo o turno com o ataque do mesmo, ‘Thunder Fall’, que deu KO aos 6 pokémons
do meu oponente em campo com apenas um ataque. Ambos nos rimos imenso e nunca
vou esquecer essa jogada, desafio alguém a tirar os 6 prémios com mais rapidez
que eu!










Facilmente das cartas mais bonitas já feitas. Bons tempos.









PCB – Quem consideras que seja uma inspiração para ti dentro da comunidade e
porquê?


Soul - Os primeiros contactos que fiz na comunidade são hoje
grandes amigos meus e muitos deles com sucesso até internacional. Talvez como
inspiração principal sempre tenha tido o Gonçalo Ferreira, um jogador mais
velho e que sempre demonstrou muita experiência no jogo, assim como paciência e
interesse em ajudar os que querem evoluir na comunidade. Admiro acima de tudo a
capacidade do Gonçalo de arquitetar planos para virar um jogo do nada, e é sem
dúvida dos jogadores que me deixa mais nervoso ao enfrentar. Gosto de pensar
que já sou um adversário à altura dele, mas sempre que jogamos há um clima de mestre
e aprendiz que é nostálgico.









PCB – Qual é o aspeto
que se deve ter mais em conta para se ser um bom jogador?




Soul - As qualidades dos jogadores variam muito com o estado
do jogo, e neste momento a capacidade de avaliar e prever o meta é bastante
relevante. Ainda assim, acho que ser-se capaz de estruturar um plano para cada
jogo e levá-lo até ao fim é super importante, e é algo em que falho (por vezes
esqueço-me de planos alternativos pois estou focado no objetivo principal do
deck) bem como o conhecimento do jogo a todo o momento: que decks são bons,
como funcionam, a que cartas recorrem e quantas de cada, que techs podem
esconder ou não, etc. Tudo isto pode oferecer uma vantagem gigantesca para o
jogador, ao ponto de prever jogadas do oponente com vários turnos de
antecedência.





PCB – Faz uma breve análise do metagame atual.


Soul - Estou um pouco confuso sobre o meta atual, e ainda
mais confuso com a saída da nova coleção Fates Collide. Considero Night March,
Greninja, Yveltal, ToadTina e Vileplume as escolhas mais sólidas do momento mas
tudo pode mudar consoante o que é jogado em cada torneio, dando liberdade a
outros decks como Megas (Rayquaza, Manectric, Mewtwo), Straight Toad ou até
Wailord de ter sucesso inesperadamente. De forma geral, acho que o metagame
mudou bastante desde os últimos meses e que está agora numa situação em que os
matchups são bastante relevantes para determinar o vencedor de cada jogo.









PCB – Que deck tens gostado mais de jogar em Standard e porquê?


Soul - Já experimentei todos os decks que há para jogar
neste formato e mais alguns, e embora há uns tempos me custasse admitir, penso
que seja Night March. O deck é simplesmente demasiado consistente e tem
resposta/forma de se preparar para quase todos os matchups, se o mesmo for bem
jogado. De certa forma lembra-me de Luxchomp, que embora mecanicamente
diferente, é igual na questão de conseguir vencer os maus matchups quando
sabemos o que estamos a fazer. A adição de Puzzle of Time é crítica para eu
jogar o baralho, a capacidade de interagir com cartas como Battle Compressor é
demasiado interessante para me escapar.














Haverá mais estilo do que um 30HP causar 180 de dano com uma energia? Épico.














PCB – O que achas que
serão as melhores jogadas para o Nacional?


Soul - Muito difícil de prever, para ser honesto, pois não
experimentei nem vi resultados relevantes da nova coleção e o seu impacto no metagame.
No entanto, acho que cada vez mais está assente a ideia de que um deck tem
primeiro de vencer Night March para poder vingar. Isso permite que, no entanto,
se existirem suficientes counters a NM, imensos decks inesperados poderão ter
sucesso e surpreender, ou pelo menos estou a contar com isso. De qualquer
forma, sinto que com a adição de N, Greninja pode ficar mais forte ainda e
decks como Vileplume mais fracos.





PCB – Se tivesses de
prever, quem crês que ficará no Top 8 este ano?


Soul - Acho que neste momento há uma competição saudável no
jogo, e que o talento está bem distribuído pelos jogadores nacionais. Qualquer
um tem hipótese para o top 8, mas é claro que, de jogadores que já tenham o seu
convite e veteranos se espere uma performance destacada. Para falar em casos
específicos, sinto que a dupla Filipe Cardoso e Bernardo Mocho se encontram
muito fortes esta season, bem como o consistente Gonçalo Ferreira. Do Porto
tenho que reconhecer o esforço acrescido de jogadores como David Ferreira,
Telmo Pinto e Pedro Barbosa. Há sempre surpresas agradáveis como tu (Paulo
Mimoso) ou João Joaquim, cujo mérito desta season deve ser reconhecido e
considerado. Não quero deixar ninguém de fora pois temos qualidade para dar e
vender, apenas sinto que esses jogadores se destacaram nesta season. Eu próprio
me gostaria de ver no top 8, e é para isso que vou lutar.





PCB – Deixa uma
mensagem para os leitores do Poké Center Blog.


Soul - Espero que tenham gostado de ficar a conhecer um
pouco mais de mim e desta excelente comunidade que é a do Pokémon TCG em
Portugal, e se estão intrigados com o jogo convido-vos a participar num torneio
para poderem juntar-se à malta!



Sobre Lawliet Shinzo

O Lawliet Shinzo é um dos membros fundadores do PokéCenter Blog. Um importante membro do projeto, marca presença em todas as frentes: blog, rádio, YouTube e revista.


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