Ontem eu e mais dois amigos da Liga de Coimbra deslocámo-nos ao Porto para disputar o PokémonCardMarket Challenge, o culminar de uma série de desafios espalhados por Portugal iniciados pelo Danny Rangel da Arena Porto e que contou com uma passagem também por Coimbra, denominados de Trial, que garantiam aos vencedores vouchers com um determinado valor no site da CardMarket, bem como um bye para o grande evento na cidade invicta. Assim o foi e, para refletir a importância do torneio, os prémios também foram de uma escala proporcional excelente, dado que este fora um evento sem suporte por parte da TPCi (o primeiro lugar recebeu voucher de 80 euros e um staple card, o segundo recebeu 40 euros e 6 boosters, por aí em diante).
A santíssima trindade conimbricense do scrubismo na Rua de Santa Catarina logo após o evento. No meio está uma personagem qualquer conhecida país fora pelo seu shitposting.
Há que destacar, no entanto, a afluência negativa por parte da comunidade, em parte devido ao preço de inscrição do torneio e ao seu carácter não-oficial (leia-se, sem atribuir CP). Com apenas 14 inscritos, ficou a ideia de que a comunidade pouco quis saber de uma competição com um payout relativamente elevado, dirigindo-me sobretudo aos mais novatos da região Norte que são de comparência regular nas Beginner's League mas que se fizeram ausentar de uma competição de nível ligeiramente mais elevado: um erro crasso visto que o suporte para Top 8 esteve sempre garantido independentemente dos inscritos e a probabilidade de se colocar em boa posição era francamente favorável até para quem não tem muita experiência de jogo; além do mais, sendo a última competição relevante antes do Nacional (ainda que num formato diferente), aproveitar a ocasião para treinar e ganhar rotina nunca é de descurar. O Norte assumiu-se nos últimos anos como o maior motor de desenvolvimento do Pokémon TCG em Portugal mas neste dia específico, tal não se comprovou. Começo a ter as minhas dúvidas acerca do crescimento da comunidade em definitivo nesta temporada. Averiguarei mais tarde se continuamos num aparente declínio ou se o Nacional consegue dissipar as minhas dúvidas e aliviar a minha mente.
Para este Challenge, decidi voltar às origens e levar a minha inovadora versão de Seismitoad/Giratina com tech de Latios e Garbodor com o qual me qualifiquei em 2º lugar no Regional de Sines em Abril último. Ao contrário do que muitos possam pensar, eu acredito que Toad/Tina continua incrivelmente relevante neste formato apesar de todo o hate à volta dele (na forma de Grass, Straight Toad, Greninja, Jirachi e milhões de outras coisas): a grande diferença está em montar uma lista consistente, útil, usando apenas o estritamente necessário, e ter um gameplan funcional com a capacidade de encontrar resposta às especificidades do deck adversário.
A grande fraqueza de Toad/Tina continua a ser Jirachi XY67, uma grande dor no traseiro para decks que joguem somente Special Energy como Night March (que usa Puzzle of Time e pode dar-se ao luxo de passar um turno sem perder um item lock como faz o Sapo) e Vespiquen/Vileplume, que é cancerígena o suficiente para impedir que um Jirachi entre em campo em primeiro lugar.
Para contornar a situação, muitas pessoas optaram por usar Puzzle of Time nos seus Toad/Tina e irei explicar porque motivo não concordo: Puzzle of Time é sobretudo um item de consistência e não de recuperação; o seu propósito principal é fazer elemento de ligação entre o que se tem e o que se quer, motivo pelo qual é fulcral em Night March via Battle Compressor e acelerando ainda mais o seu motor de jogo. Sem condições para aceleração ótimas, ter Puzzle of Time em Toad/Tina são slots desperdiçados em situações onde se quer outro tipo de cartas (disrupção ou consistência direta) e que muitas vezes acaba por se ter apenas 1 de cada vez na mão, com a agravante de um bom jogador de Toad/Tina nunca ficar sem energias prematuramente decaindo mais a utilidade de uma carta que, em mirror ou noutros matchups de item lock, é inútil. Nunca tive problemas de energias em Toad/Tina em jogos que não sejam contra energy denial, e se tenho é porque o jogo correu anormalmente mal a nível de draw/necessidade de discard a esse respeito. 4 DCE e 4 DDE é mais que necessário e há vezes até em que as energias estorvam o meu hand draw e não me deixam ter os 1-ofs necessários através de Set Up que muitas vezes gostaria de ter a dada altura.
Best friends forever <3
Latios e Garbodor, como irão confirmar na descrição de rounds mais à frente, são absolutamente necessários na minha estratégia contra decks que porventura serão maus matchups para Toad/Tina, cada um na sua utilidade própria, sem sacrifício de muito espaço e com um retorno absolutamente decisivo quando funciona. Admito que estes dois techs ganharam-me todos os meus jogos no Challenge e que sob as circunstâncias corretas adquirem o controlo do jogo.
A ideia do Latios, sugerida inicialmente pelo João Dionísio, já tinha sido abordada por mim no meu report de Sines através do temível donk de Fast Raid que elimina a maior parte das ameaças do metagame no primeiro turno através da correta combinação; se não tinha sido prevalente no Regional, no Challenge então foi decisivo para os meus bons resultados.
O Garbodor foi uma adição originalmente minha proveniente da necessidade de dar counter a um metagame agora muito dependente do uso de abilities, mas também da abada que o Bernardo Dias me deu no City de Lisboa em Fevereiro com o seu fun deck de Seismitoad/Malamar/Aromatisse (que para mim não foi tão fun) mas que como depois confirmei, desliga muitas das estratégias agora existentes e que são uma ameaça enorme para o Sapo (Aegislash, Octillery, Gallade, Slowking, Zoroark, Carbink Safeguard, Greninja BREAK, Trevenant, Vileplume, e muito muito mais) e consegue dar a volta a matchups que outrora seriam complicados.
O Challenge acabou com a vitória do Oscar Batalha, que se apresentou com uma intrigante combinação de Manectric/Wobbuffet com tech de Lugia. Não o vi em ação ao detalhe pelo que não sei determinar a sua estratégia exata, mas foi o suficiente para atravessar o mar de Greninjas e levar para casa o primeiro posto. Derrotou na final o João Lopes, que tinha precisamente Greninja que usa dois Shaymin, e antes na meia-final levou de vencida o Pedro Barbosa também com o mesmo Greninja sem apoio de Octillery ou Shaymin, uma versão mais direta. Eu, com Toad/Tina, completamos o constituinte do Top 4 do Challenge.
Último round dos swiss pairings, onde a concentração dos jogadores é evidente. © Arena Porto
Round 1: José Pedro Pacheco (Night March) LW - 0-0-1
Desde Fevereiro que eu não começava um torneio por outro resultado que não a vitória e muito disso deveu-se à boa prestação do meu primeiro adversário que conseguiu aproveitar dos meus péssimos começos nos games 1 e 3. Admitidamente não estou habituado a ter inícios onde não consigo ter acesso a um Supporter de draw ou Ultra Ball mas aconteceu por duas ocasiões neste jogo, onde hilariantemente eu, começando com Shaymin, consegui sobreviver um turno contra um Joltik que não conseguiu arranjar forma, surpreendentemente, de descartar qualquer Night Marcher no seu primeiro turno mesmo depois de ter usado Sycamore. Rapidamente perdi o game 1 devido à horrível mão que tinha mas consegui levar o game 2 graças ao meu acesso a maior consistência e facilidade em lhe conseguir retirar energias da sua parte do campo que, conjugado com Giratina, o objetivo passava por lhe privar de qualquer forma de conseguir colocar mais. Embora o José usufruísse de Enhanced Hammer e Xerosic, que conseguiu efetivamente usar com algum sucesso, os Puzzle of Time demoravam em vir e com essa conjugação consegui empatar o jogo, não sobrando mais tempo para concluir uma terceira contenda.
Round 2: Eduardo Madeira (Greninja) WLW - 1-0-1
Game 1: Latios Donk.
Game 2: Apesar da infelicidade de nos termos cruzado tão cedo, saberíamos que pelo menos um de nós ficaria pelo caminho naquele duelo e que não haveria providências a tomar, pelo que jogámos o jogo pelo jogo a fim de decidir o melhor percurso de acordo com os matchups seguintes mas acabámos por tomar o curso competitivo de qualquer maneira. O Eduardo conseguiu colocar os seus Greninja em campo e conseguiu começar a distribuir dano e fê-lo de forma a que eu não conseguisse responder com as armas que tinha. Fiquei orgulhoso do meu colega de Liga por me ter levado este jogo com tamanha facilidade.
Game 3: Latios Donk.
Round 3: António Sá (M Rayquaza/Jolteon) W - 2-0-1
O António surgiu em cena com um deck que ainda não tinha visto no panorama nacional e que tem conseguido muitos bons resultados a nível europeu, a combinação de M Rayquaza-EX que consegue produzir um dano massivo no primeiro turno de jogo com Jolteon-EX, a solução contra as maiores fraquezas do deck: básicos pequenos capazes de ganhar no prize trade, como é o caso evidente de Night March. Contra mim, essa estratégia tornar-se-ia mais clara visto que com Jolteon à frente, sou impedido de lhe matar os Pokémon e possuo pouca resiliência para causar OHKO. Contudo, Rayquaza é um deck com muitas fragilidades e formas de conseguir dar a volta, algo mais assertivo quando se joga contra um deck cujo propósito é travar e desabilitar. Com Garbodor em campo desde cedo, o António não conseguiu colocar nem Hoopa nem Shaymin para produzir o setup desejado, e começou por tentar alimentar um Jolteon visto que seria essa a sua prioridade, mas fiz questão de não deixar que esse Jolteon fosse uma ameaça. Em ambos os jogos, a presença de Garbodor e Giratina a impedir investidas por parte de Zoroark e Rayquaza, bem como a necessidade de Jolteon necessitar de 3 energias elétricas para fazer algo incapacitou grandemente o António, que fez uso de Xerosic para me travar, com um erro terrível: tirou a DCE que estava no meu Giratina, ao invés da tão preciosa DDE e deixou-me atacar por mais um turno. Essa ação permitiu-me vencer o jogo com algum grau de confortabilidade visto que os recursos dele acabavam ali. Deu-me a impressão que o António tem um grande arsenal disponível e fez um significativo investimento no jogo mas que lhe falta ainda alguma sensibilidade táctica e experiência física, algo que pode perfeitamente ser colmatado com uma maior incursão teórica e com alguém que o guie na direção certa, porque o António seguramente tem recursos para se tornar um jogador assinalável se assim desejar.
Round 4: Pedro Barbosa (Greninja) LW - 2-0-2
O Pedro é, neste momento, discutivelmente o melhor jogador de Greninja em Portugal. Venceu um Regional com essa escolha e produziu uma panóplia de bons prestações que lhe estão à porta de garantir uma presença no Mundial deste ano. Depois de ter estado em hiato desde 2009, voltou em 2015 para chegar ao Top 8 de rampante e esta época tem estado algo errático nas suas participações mas sempre em grande nível exibicional quando comparece.
Costumo dizer que a confiança é tudo quando se joga Pokémon e talvez por isso devia ter tomado outra atitude relativamente ao Pedro, quando me deixei levar muito pela intimidação do mau matchup. Isso quase sempre resulta numa pose mais confortável para o adversário que não precisa tanto de temer quem está do outro lado e pode por esse motivo tomar decisões de forma mais tranquila e evitar errar. O objetivo passava acima de tudo por garantir pelo menos um empate, perdido estava o coin flip, e a única forma de o garantir era levar muito tempo no game 1 e acreditar no donk no game 2. Nem isso acabei por conseguir: a sua versão de Greninja providencia-lhe uma grande aceleração praticamente imune a item lock proveniente de Seismitoad e as tentativas de poder de alguma forma baralhar o jogo do Pedro eram respondidas por ataques diretos que fragilizavam a minha posição e forçavam-me a descartar ofensivamente os meus Pokémon pelo que a tentativa de pelo menos perder tempo durou alguns minutos, mas não o suficiente.
Game 2: Mão inicial de DDE e Float Stone, Trainer's Mail para Ultra Ball, a partir daí Hoopa, Latios e dois Shaymin, DDE attachment, retreat para Latios, descartar cenas e Set-Up para um Trainer's Mail que me deu o Muscle Band com alguma facilidade. Tanto eu como o Pedro nos rimos. Donk.
Ao início do Game 3, percebemos que bastava o Intentional Draw para garantir todos os pretendidos no Top (eu e o Oscar, amigo do Pedro) e que não valia a pena jogar mais.
Top 4: João Lopes (Greninja) LWL - 2-1-2
Perdi o coin flip inicial uma vez mais. A partir daí a minha confiança desmorona-se uma vez mais e as minhas probabilidades de vencer reduzem drasticamente. Devido a isto, fico algo nervoso e faço alguns erros de iniciante quando tento fazer o meu jogo, que incluem colocar um Shaymin... enquanto estou com o meu próprio Garbodor. Ha ha ha. Mas na altura não teve piada. Perdi progressivamente controlo de um jogo que por parte do João chegou a ser fácil o suficiente para me derrotar sem grande oposição. Tinha de fazer mais.
No game 2, no entanto, tinha que aproveitar o fator donk, e dou por mim de contente quando começo com um Latios!! Ainda por cima o João começa apenas com um Pokémon. Estava jubilado. E depois ele flipa-me o raio de um SHAYMIN. Um Shaymin. Em Greninja. Em situação de donk. O mundo veio-me abaixo, não antes sem ruidosa reação da minha parte, incrédulo com o que via. Pois, o Greninja do João jogava um par de Shaymins para dar consistência. Mas acabei por aproveitar isso mesmo à minha vantagem. Tirei-lhe um Froakie bastante cedo e fiquei com 5 prémios, coloquei Garbodor para impedir mais truques, pus Seismitoad e Giratina prontos a atacar e fiz rotação entre eles através de prize denial e stadium denial com timings preciosos ao qual ele responderia apenas defensivamente. No tempo certo, um Judge seguindo de KO's seguidos a ambos os Shaymin retirou-lhe recursos e era uma questão de tempo até que pelo menos um Greninja BREAK se fosse. Com o Megaphone dele nos prémios, e sem ele retirar nem um prémio devido à conjuntura do jogo, consegui levar de vencida aquele que foi o jogo onde tive a melhor performance em toda a minha carreira, não conseguindo eu acreditar sequer no que tinha acabado de fazer.
Era um bom presságio para o game 3, onde o grande objetivo seria empatar quanto tempo fosse possível para levar o jogo a Morte Súbita, sabendo que se perdesse prémios esse objetivo seria severamente comprometido. A mesma estratégia de rotatividade e prize-denial aplicou-se, mas fui forçado a descartar ambos os meus estádios muito cedo, pelo que desta vez ele conseguiria ter free retreat e heal todos os turnos, complicando a minha tarefa decisivamente. Fazendo então Quaking Punch, aguentei o máximo de turnos que pude com Rough Seas sucessivos e levando apenas 50 pontos de dano com abilities desligadas devido ao Garbodor em campo. Na altura decisiva de dar prize denial, no entanto, o meu último Super Scoop Up, falhou, fui forçado a entrar com Giratina, e o João conseguiu dar uso ao seu VS Seeker, que depois deu seguimento a Skyla e sucessivo Megaphone, conseguindo usar abilities, e com 3 Shurikens, ter levado 4 prémios dando OHKO ao meu Seismitoad retirado com apenas 20HP restante, onde entrou Greninja XY, e também ao único Shaymin que tinha com 2 Shuriken de 60 de dano. Estando o meu último Shaymin nos prémios, não havia nada que pudesse fazer para dar draw de mais cartas que me pudessem ajudar a sair da situação (Lysandre para Shaymin de forma a ganhar prémios já em tempo de turnos) e perdi o último jogo, atirando-me para fora do Top 4, ficando no entanto, o jogo intenso e uma prestação da digna da minha parte, bem como ficou evidente a superioridade do João bem assente num duelo em que a clara desvantagem não se evidenciou tão veementemente.
João Lopes: charme, estilo, um dos melhores jogadores portugueses e um punhado de sorte que me fez roer as unhas.
Paulo, congrats! :)
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